terça-feira, 31 de maio de 2011
Benguela - Angola - a partir de Mozinhos - Souto - Penedono - Viseu
Do Negage à Portela
Pérola Quicongo à beira Tejo
Bairro da lata do Areeiro
Musseque dos espoliados em Lisboa
Negra sozinha na noite
Embrenhada no escuro dos escorraçados
Avenida abaixo, calçada arriba
Olhos tristes, paisagem do desconforto
Como quem persegue a luz
Borboleta africana, perseverante
Paciente e desesperada, luta, desarmada
Na garganta um nó
Mas, ainda assim, sorri…
Mostra alvos os olhos
E os dentes…
Da boca carnuda, belíssima…
Negra esbelta, triste
E contente
Só porque está viva
E seduz…
Que linda que ela vai
Anda prenhe a negra do Congo
Veio de tão longe parir em Lisboa
Um filho da noite no musseque do Areeiro…
.
*Luís Urgais*
Cafofa de Benguela
Morena de Benguela, gira, enigmática…
Covinhas na face, sorriso envergonhado
Mestiça, fruto do fruto, produto do produto, semente do devir.
Solução química laboratorial, miscível do branco com a negra.
Diva das divas!
Mas… apenas lura do falo do mesquinho pula…
Morena de Benguela, graciosa, menina incauta, linda!
Ancoradouro das muitas volições
Argola dos muitos grilhões
Acácia florida do planalto
Morena de Benguela, poema, canção rente à praia!
Menina, menina, das praças, das ruas, dos mercados
Mulata, menina morena de Benguela… do musseque…
Morena de Benguela, perdida nas esquinas de Luanda
Meretriz, perdeste o teu gracioso laço do cabelo…
Fumas agora os cigarros do desencanto na mulemba
Curvas-te acendendo a fogueira do fogo frio
Tocas com os dedos as feridas em chaga
Senhora, morena de Benguela, deambula e esconjura o ngueta, vocifera, então?
Menina, morena de Benguela, pirula de Luanda, gaivota das noites insones
Viraste catatua noctívaga das lixeiras…
Ngana da frustração, muxuxa Lara então na palhota, menina, morena , cafofa de Benguela…
então, já que não ouviste os meus muximos…
Remexe e remexe as tuas imbambas, acende as tuas massuicas
Envergonha-te agora da tua mangonha, morena, cazumbi.
Luís Urgais
Bumba
Dona Bumba quantos anos tem?
Ué! Aka! Senhora não idade.
Pergunta na tua cassanda,
Sukuama! Tuji! Tunda!
Bumba, bumbinha, quantos momentos…
E depois…
Depois, depois… foi penico!
Agora é trapo…
Bumba não tem ninguém
Esquecida dos homens e da própria desgraça
Bumba senta-se à porta da cubata
Todos passam e nem um só repara que está nua
Bumba é gente por que não reparam então?
Bumba já não é lavadeira, engomadeira, nem cozinheira
Bumba não tem força, não carrega mais com os pesos à cabeça
Bumba não trabalha mais, não tem força, nem se tem em pé…
Bumba não tem filhos, nem nada
Bumba já não vende
Bumba não come, nem dorme, nem nada
Bumba se é gente por que não tem nada então?
Bumba não vê, nem anda, nem nada
Bumba estará morta então?
Bumba não está morta, nem nada
Bumba sempre foi morta viva para sempre, para sempre!
Bumba escrava já não é cativa, nem nada
Bumba concubina já não é prostituta, nem nada
Bumba está nua à porta da cubata!
Bumba está calada mas grita por nós: porra! Porra! Ninguém ouve, nem nada…
Luís Urgais "Trinta e Três Poemas Inteiros"
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